O filme começa com um homem
correndo com uma mochila nas costas. Grita ao perceber que perdeu a balsa. Por conta
disso, aguarda em bar pela próxima balsa às 5h. Enquanto espera, um senhor
chamado Zaqueu começa a contar o causo que aconteceu no lugar onde tinha
nascido e crescido: o Vale do Javé.
Multidão enfurecida. O sino da
igreja toca. A comunidade reunida procura esclarecimentos do fato de que a
cidade se tornaria uma represa e que eles teriam que sair de suas casas, abandonado
assim, suas terras. Questionando sobre o que poderia ser feito para evitar tal
acontecimento, a resposta é clara: A cidade precisaria ter sido tombada como
patrimônio histórico para que tivesse assim "importância". Eles
argumentaram que a importância histórica da cidade está na história do seu
começo, do fato deles cantarem as terras. Um indivíduo chegava e cantava para a
terra dizendo que ela a pertencia, passando de pai para filho. Cada um tinha o tanto
que conseguia cultivar. A ideia era a seguinte: já que as terras só não seriam
submersas se fossem patrimônio histórico, o povo então escreveria a história de
Javé.
Mas a história seria escrita
pelas mãos de quem? Antônio Biá, alguém responde. Alguns homens vão buscá-lo em
sua residência, mas ele reluta, sendo levado à força. Antônio era odiado pelo povo,
pois para preservar seu emprego no correio, numa cidade em que ninguém sabia ler
nem escrever, ele resolver escrever cartas às cidades vizinhas inventando
histórias e caluniando as pessoas do vilarejo. Com isso o movimento do correio
cresceu e ele ficou com o emprego. Quando o povo de Javé descobriu, não houve
perdão. O resultado é que ele foi expulso de Javé pra nunca mais voltar, mas
agora o povo do povoado precisava dele. Eles propuseram a ele a oportunidade de
cumprir com a função de escrivão preparando um dossiê sobre a história do Vale
de Javé. Um dia ele salvou seu emprego à custa do povoado. Agora teria que
salvar o povoado à custa do seu trabalho.
Zaqueu, representante do povo, vai às autoridades dizer
que os documentos históricos estão sendo preparados.
Antônio Boá inicia sua
pesquisa pela casa do senhor Vicente, pai de sua amada. Dá-se início então à
sua empreitada: escrever a Odisséia do Vale do Javé, primeira parte. Ele se
descreve como o homem que só consegue pensar à lápis, instrumento que tem
preferência para a sua escrita. O senhor vicente inicia sua narrativa mostrando sua garrucha velha, intimidando a princípio
o escrivão Antônio. O objeto pertenceu ao fundador de Javé, Idaléscio. Vicente
começa a contar a história, mas Antônio Biá decide floriá-la, pois a verdade
não lhe é o suficiente. Vicente não se convence e insiste que a história seja
contada como de fato é. Eles se despedem com a desculpa de que Biá escreverá a
história posteriormente.
Antônio chega-se ao vilarejo e
é recebido pelas crianças. Em uma barbearia a céu aberto, o barbeiro deseja
cooperar com uma de suas histórias para o livro. Reconhece não ter uma grande
história para contar, mas acredita que Biá conseguirá torná-la mais atraente. Em
troca, Biá deseja um ano de barba grátis. Dois homens da cidade se põem a
segui-lo, para garantir o bom andamento do serviço. Ele então se encaminha à
casa de uma senhora, que não o recebe de bom grado. Ele não arrega, mas a
enfrenta. Ela então cede e o recebe em sua casa para contribuição no livro. Ela
começa contando a mesma história que já havia sido contada por Vicente, mas
desta vez acrescenta a história de uma parente dela, Maria Dina. Um homem que
ouvia a história começou a acusar dizendo que cada um contava sua história
exaltando sua parentela. E de fato era assim.
Com o passar dos dias, o povo
vinha até Biá disputando a preferência para contar a história. Todos queriam a
participação no livro. Dia e noite vinha gente de toda canto oferecendo suas
histórias. Em meio aos trabalhos, os engenheiros e fotógrafos já começam a
adentrar o vilarejo, já contando com a construção da represa. Existe um clima
de tensão entre os moradores e os representantes da represa. Alguns moradores já
começam a deixar suas casas e ir embora do vilarejo.
O sino da igreja toca. A
multidão se reúne na capela para saber o ocorrido. Um velho louco quer falar a
todos e gera tumulto. Zaqueu chega no local e apazigua a confusão. Pede o livro,
mas Boá argumenta dizendo que precisa finalizá-lo. Todos marcam de se encontrar
no armazém à noite, mas Biá não comparece, apenas envia o livro pelas mãos de
uma criança. Como é de se esperar, o livro está em branco e as histórias
somente na mente de Antônio. A multidão inconformada vai à caça de Antônio
Biá. Ao encontrá-lo, traz à presença de
todos que o questionam sobre o por quê de não ter escrito nada. Antônio fala a
todos, dizendo que as histórias contadas não irão impedir a construção da
represa e humilha a todos os presentes, chamando-os de semi-analfabetos e ignorantes.
Todos, entristecidos, o deixam e dão as costas. Ele sai de costas, sempre
olhando para o povo, xingando e ofendendo. Mas não há reação nem respostas.
O tempo passou e o povo de
Javé não teve tempo de fazer mais nada. E um dia as águas vieram. O povo
presencia esse momento, entristecido. Antônio Biá se aproxima e chora
amargurado ao ver a cidade submersa, engolida pelas águas. Ele observa o povo
se retirando, levando o que ainda poderia ser levado. Começa a escrever no
livro como o povo estava naquele momento e o que cada um fazia para ajudar. E
mais uma vez a cena se repete. O povo já está atrás de Biá novamente, querendo
ter sua contribuição no livro que contaria a história do povo dali pra frente.